segunda-feira, 29 de outubro de 2007

E a Bahia mostrou a sua cara

Sábado assisti à comemoração dos sete anos do Altas Horas, gravado aqui em Salvador. Resolveu-se convidar alguns artistas locais para interpretar músicas de Tim Maia, o homenageado da festa. Até aí, tudo lindo: Serginho emocionado, feliz em estar festejando na Bahia, a Concha Acústica lotada, etc e tal. O que se viu, entretanto, foi um dos encontros musicais mais terríveis de toda a história do Axé e da TV. Particularmente, fiquei com vergonha de Pitty (ninguém nunca lhe disse que cantar com piercing na língua não dá certo?) e de Tatau, que parecia bem abatido com a saída do Ara Ketu (achismos à parte). Cláudia Leite, então, conseguiu se superar e não sei se por nervosismo ou simplesmente por não saber fazê-lo, simplesmente conseguiu destruir uma das músicas mais bonitas de Tim, Você. Emanuelle Araújo, mais atriz do que cantora, e ainda assim, ruim, também não rendeu com Canário do Reino. Ivete, a primeira a se apresentar, foi apenas correta - e sábia - ao cantar Não Quero Dinheiro, música mais do que batida e debatida por essas plagas carnavalescas. Outro sábio, ou sortudo, foi Durval Lélis que ficou com Sossego - mais fácil, impossível. Carlinhos Brown foi fiel na interpretação de Azul da Cor do Mar. Netinho, Alexandre Guedes (Motumbá) e Saulo Fernandes não me empolgaram, o que não é nenhuma novidade... Margareth Menezes, entre uma desafinada e outra, deu conta do recado. Daniela Mercury e Jauperi, os últimos da noite, interpretaram juntos, mostrando sintonia e afinação, uma das músicas mais chatas e cafonas da nossa música popular, Como Um Dia de Domingo (há quem aponte esta música como o início da derrocada de Gal Costa, nos anos 80, quando ela enveredou pela breguice musical). A cada entrada de um deles, toda a Concha ia ao delírio, claro, figuras populares e queridas pelos axezeiros de plantão. Agora, vejam só: Virgínia Rodrigues, descoberta por Caetano Veloso e tida pela crítica internacional como uma das maiores cantoras brasileiras, foi necessário Serginho Groisman pedir aplausos para ela. Não conhecia a música cantada por ela, mas foi de rara beleza. Aliás, se ali existiu arte e uma digna homenagem a Tim Maia, devemos isso à voz e à interpretação de Virgínia Rodrigues. Pena que o grande público presente à festa não tivesse a menor noção disso...